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Maria Luiza de Araújo fala sobre saúde vocal

A fonoaudióloga especialista em voz Maria Luíza de Araújo fez uma síntese de todas as perguntas que chegaram, pois muitas destas se repetiam ou eram feitas abordando nuances do mesmo tema. Aqui estão as respostas.

Boa leitura e juízo, pessoal! ;)


1. 'Ar na voz / Soprosidade (como uma estação de rádio fora de sintonia) é normal?'


M.L.A.: Qualquer soprosidade ou ar na voz, como vocês do canto se referem, indica uma má coaptação (fechamento) glótica, ou seja, as pregas vocais não se aproximam e se afastam adequadamente durante a fonação, seja ela falada ou cantada.As fendas glóticas podem ser ocasionadas por hiper ou hipocinesia muscular, ou seja, tanto a deficiência como a exarcebação no tônus da musculatura laríngea e às vezes paralaríngea (as que não atuam diretamente na produção da voz) podendo gerar um fechamento glótico irregular ou incompleto. Tb ocorrem pelas "lesões de massa", como nódulos, sulcos, cistos e pólipos vocais.


2. 'Cantar estando doente (amigdalite, faringite, gripe), mesmo que a voz não tenha sido afetada, é saudável?'


M.L.A.: Cantar é como qualquer atividade física intensa, e como tal requer uma saúde geral em boas condições para que se processe melhor performance. Se ocorre alguma patologia ou alteração na região respiratória especificamente, o rendimento vocal certamente estará afetado.


3. 'Qual o máximo tempo indicado de estudo diário?'


M.L.A.: Fisiologicamente, o rendimento vocal varia para cada indivíduo. Quem pode definir melhor o tempo de uso intenso vocal é quem acompanha o cantor, no caso o professor de técnica vocal. O fonoaudiólogo prepara o aparelho fonador para que este funcione no seu máximo desempenho funcional. Como fonoterpia, não vou além de 15-20 minutos no aquecimento vocal fisiológico.


4. 'Sou soprano lírico-leggero e percebo que depois de algum tempo cantando direto (mais de uma hora) minha extensão aumenta para cima - vou mais longe nos sobreagudos - mas diminui para baixo - passo a ter mais dificuldades nos graves. Por que isso acontece? É normal?'


M.L.A.: Uma vez que o soprano ligeiro tenha a sua performance nas zonas mais agudas, ao usar intensamente a voz, certamente esta região vai estar mais aquecida e este direcionará o foco para a região de maior estabilidade e performance, ou seja, os agudos. Para melhorar os graves, haveria necessidade de se aquecer também a região destes, com exercícios específicos para tal, que também variam de caso a caso.


OBS.: Acho que as questões de voz cantada relacionadas a treino, horas de preparo, vocalizes etc, devem ser discutidas com o prof. de canto ou preparador vocal.


5. 'O que provoca e como cuidar de um edema na prega vocal? Qual o tempo de recuperação? Quais as suas possíveis consequências?'


M.L.A.: Os edemas ou inchaço das pregas vocais podem ser causados por diversos fatores, como questões alérgicas, alimentares, refluxo laringofaríngeo, comportamento vocal inadequado ... Consequências? Alterações no rendimento vocal ou até a perda da voz se persistir no esforço vocal! O cantar deve ser num ambiente físico e corporal saudável. Se há qualquer alteração orgânica ou vocal, procure o laringologista, não tem como fugir.


6. 'Tentar estender sua extensão buscando notas que a princípio não se tem (levar os vocalizes ao extremo no momento dos estudos), pode ser prejudicial?'


M.L.A.: Questões específicas de técnica vocal devem ser esclarecidas pelo professor de canto ou preparador vocal, que conhece melhor o seu aluno. No âmbito fisiológico, qualquer tentativa de cantar ou falar fora de sua capacidade laríngea certamente será nocivo, pois a extensão, o tamanho das pregas vocais varia de acordo com cada registro vocal. Ex. os sopranos e tenores têm a dimensão da PV menores que os mezzos e barítonos, que por sua vez têm estas menores que os contraltos e baixos.


7. 'E comer maçã, tomar gelado... o que pode e o que não pode?'


M.L.A.: Primeiro o bem-estar emocional, depois o físico e laringológico. Muitos professores obrigam seus alunos a comerem maçã, não tomarem gelados,, .... Não há evidências científicas comprovadas sobre estes dois fatores. O consumo de bebidas alcoólicas pode prejudicar o ritmo ou articulação. Quanto a pimenta, molhos picantes, alimentos "diferentes", tudo vai de acordo com o organismo e o momento de cada um, mas sugiro não experimentar nada fora do cardápio usual perto de apresentações. ET: O repouso físico, uma boa noite de sono tb é benéfico para a voz.


8. 'Sou contratenor e sinto cansaço ao falar (não ao cantar). Eu sinto que falo 'errado'. Isto é normal?


M.L.A.: Talvez o contratenor esteja fazendo ajustes incorretos para o canto e/ou fala, não tenho como analisar apenas sob comentário, preciso ver se ele faz esforço músculo-esquelético (região do pescoço e ombros), tensão e elevação excessiva da laringe, travamento articulatório (se fala sem articular as vogais corretamente, ou abre pouco a boca para falar)... É muito risco generalizar uma informação sem conhecer o caso. Falar com esforço não é normal. Não tenho como "padronizar" uma sugestão, pois poderia até mascarar algo mais sério: ele pode compensar na voz cantada o que não consegue na falada, ou usa de "recursos" diferentes para ambas. Já detectamos alguns casos iniciais de tumores nesta região por conta de avaliação que não "fechava" ou não condizia com a queixa do cliente. Por isso não podemos generalizar nada; cada voz é uma voz e cabe ao dono desta buscar todos os cuidados que esta requer, especialmente se este tratar-se de um profissional da voz, como o cantor, neste caso.


9. 'Vale a pena ver um otorrino/fono mesmo com a voz saudável? Só pra checar?'


M.L.A.: Eu atendo alguns cantores que buscam melhorar ou aperfeiçoar a sua performance vocal, mesmo sem alterações específicas na região laríngea. Sugiro sempre que estes façam uma avaliação laringológica com um médico otorrinolaringologista e daí se eles quiserem ser avaliados também pelo fono, é critério pessoal, tal como buscamos a orientação de um nutricionista quando queremos um melhor rendimento nas atividades físico-desportivas. Mas não é exagero buscar esta avaliação, pois nós fonoaudiólogos estamos em constantes pesquisas para proporcionar um tratamento ou consultoria vocal mais adequados a cada caso específico, e com o advento dos diversos musicais que estão ocorrendo nas grandes capitais, a voz cantada tem sido o nosso grande foco do momento.


Imagem:The Listening Room (1952) - René Magritte

o boa chance: 

 

Eu sou a Carolina Faria, cantora lírica e professora de canto. De tanto responder às mesmas perguntas de jovens aspirantes a cantores líricos (dos mais variados pontos do Brasil e América Latina) sobre como conduzirem seu início de carreira, resolvi criar o Boa Chance.

Aqui quero partilhar oportunidades e informações de trabalho, além de dicas e tutoriais de gente que entende de carreira, de música e de voz. Quero mostrar aos jovens como pode ser possível (sim!) realizar seus sonhos e tornarem-se artistas plenos.

O que importa aqui é fazer as conexões entre as pessoas certas, indicar caminhos. Muita gente boa fica em casa por não saber exatamente qual o próximo passo dar, e a meta do Boa Chance é oferecer elementos para que cada um possa alcançar seus objetivos. 

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